O impacto do clima no negócio – Época NEGÓCIOS

Por Heiko Hosomi Spitzeck*

Estamos acostumados a falar sobre o impacto do negócio no clima, mas você já pensou no impacto do clima no seu negócio? — Foto: Getty Images
Estamos acostumados a falar sobre o impacto do negócio no clima, mas você já pensou no impacto do clima no seu negócio? Esse é um bom momento para pensar nisso, já que estamos acompanhando de perto a conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27 , que segue até 18 de novembro. O que dá para perceber imediatamente é que o “clima” das negociações poderia ser melhor.
Em primeiro lugar, a maioria dos países não cumpriu com metas estabelecidas previamente nas conferências que acontecem há 30 anos. De acordo com o Climate Action Tracker, as ações de países como China, Índia, Canadá, Estados Unidos e a União Europeia são insuficientes.
Para completar, atores importantes como os governos da China e da Índia ou investidores — como o CEO da Blackrock — nem participam das negociações este ano. E, para agravar a situação, há um terceiro ponto: a guerra na Ucrânia, que obriga a União Europeia a reativar usinas de carvão para substituir gás da Rússia. Considero pouco provável que os governos dos países vão se comprometer de fato com ações efetivas.
Por outro lado, os impactos das mudanças climáticas ficam cada vez mais difíceis de ignorar. Das queimadas da Califórnia à Austrália, das secas causando fome para milhões na África ou impactando a agricultura no Uruguai, até a baixa nos rios na Alemanha impactando cadeias de logística, vemos cada vez mais negócios afetados pelo clima. Nos lugares onde as mudanças climáticas causam fome ou inundações, estamos vendo efeitos migratórios de milhões de pessoas.
Uma questão importante: quem está com a batata quente na mão? Por um lado, as empresas resseguradoras, como SwissRe ou Munich Re, que investiram cedo na análise de riscos de mudanças climáticas e agora estão adaptando suas metodologias no novo cenário.
A SwissRe estimou que as perdas globais somaram U$ 112 bilhões em 2021. Para o negócio deles, isso significa mais perdas e, consequentemente, mais reservas de capital no futuro. Por outro lado, isso vai influenciar o jeito como resseguradoras e seguradoras fazem negócios, incluindo taxas de risco de acordo com riscos climáticos de cada negócio.
Eventos como secas afetam não só a agricultura, mas também setores como logística (problemas de escoamento via rios), saneamento e indústria (falta de água para produção). Esses segmentos onde os riscos se manifestam podem se preparar para mais questionários ESG das seguradoras, e também dos bancos e investidores.
Estamos entrando numa situação delicada. A inação da comunidade global, em conjunto com o aumento de pressão por causa dos impactos no negócio vai dar em quê? Reacionismo! Quando governos locais e nacionais não conseguem mais fugir dos impactos de secas, inundações, migração e cadeias de abastecimento instáveis, vão reagir com medidas de curto prazo.
Vão punir os emissores com taxação e levantar dinheiro para aliviar os dores do seu eleitorado. Claro que seria mais inteligente se preparar proativamente para essa situação, porém não é o que vemos na prática.
Então o que fazer? Acredito que o empresariado vai ser deixado na mão pelos governantes de muitos países. Mas as empresas são mais rápidas para se adaptar e se preparar. Consequentemente, recomendo a todos urgentemente desenvolver um diagnóstico de riscos climáticos. De que maneira a sua empresa está exposta a riscos de secas e inundações? Quais são os pontos e localidades sensíveis na cadeia de valor?
Depois de monitorar a situação está piorando nesses pontos nevrálgicos, é necessário ter planos de contingência prontos. Enfim, fazer uma boa gestão de riscos.
Empresas mais proativas já sabem: o sofrimento de uns é a oportunidade de negócio dos outros. Quais entre os seus clientes vão sofrer mais com as mudanças climáticas? Do que eles vão precisar quando chegar a hora? Se você tem as soluções prontas, garanto que vai aumentar a receita e o EBITDA.
Além disso, há capital internacional procurando investir em tecnologias e soluções que combatem mudanças climáticas. Mesmo no governo atual, o BNDES tem linhas de financiamento dedicadas à redução de emissões.
O setor de energia tem oportunidades tremendas nesse sentido. A África do Sul está investindo U$ 8,5 bilhões na transição de carvão para energias renováveis. Toda a União Europeia segue a estratégia de "Just Energy Transition", favorecendo a energia limpa para garantir o abastecimento de todos.
Como sua empresa está aproveitando as oportunidades das mudanças climáticas?
*Heiko Hosomi Spitzeck é Diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral
© 1996 – 2022. Todos direitos reservados a Editora Globo S/A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

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