Techs cortam na carne, mas existe mesmo desemprego na área de tecnologia? – UOL Economia
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Carlos Juliano Barros, 38 anos, é jornalista e mestre em Geografia pela USP. Há anos vem se dedicando à cobertura de temas relacionados ao mundo do trabalho. Nessa área, já dirigiu quatro documentários de longa e média-metragem, selecionados para importantes festivais dentro e fora do país. O mais recente deles, “GIG – A Uberização do Trabalho” (2019), produzido pela Repórter Brasil e exibido pela Globo News e pelo Canal Brasil, foi finalista na categoria imagem do Prêmio Gabriel García Márquez. Também é criador, roteirista e apresentador do podcast “Trabalheira/Rádio Batente”, eleito pelo Spotify um dos destaques de 2020. Já colaborou para diversas publicações, como BBC Brasil, Folha de S. Paulo, Rolling Stone e The Guardian. Um dos fundadores da Repórter Brasil, recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de Anistias e Direitos Humanos em duas oportunidades e foi finalista do Prêmio Esso de Jornalismo.
15/11/2022 04h00
Mark Zuckerberg definiu como “uma das mudanças mais difíceis que fizemos na história da Meta” a demissão de 11 mil funcionários de uma das mais valiosas big techs do mundo, anunciada na quarta-feira passada (09/11).
Quatro dias antes, o best-seller Nassim Nicholas Taleb — professor da Universidade de Nova York e um conhecido analista de risco nos EUA — já havia provocado no Twitter: “o desemprego persistente na indústria de tecnologia vai ser uma realidade”.
Ainda que soe como tal, o post de Taleb não era uma profecia sobre o desligamento sumário de milhares de empregados feito pela bilionária companhia dona do Facebook e do WhatsApp.
Na verdade, a análise dizia respeito a uma importante mudança macroeconômica que vem acontecendo nos países desenvolvidos: a escalada das taxas básicas de juros para conter a disparada da inflação.
O raciocínio de Taleb não é difícil de compreender. Desde a crise financeira de 2008, os principais bancos centrais do mundo vinham derrubando os juros na tentativa de fazer a roda da economia girar mais rápido.
Como os títulos públicos passaram a render nada, ou quase nada, muitos investidores cheios da nota decidiram, então, apostar suas fichas em empresas não necessariamente lucrativas, mas altamente promissoras.
Esse ambiente de extrema liquidez e de apetite ao risco gerou uma década de ouro para as empresas de tecnologia. O modelo de torrar dinheiro sem dó para, de um lado, atrair fornecedores e, de outro, fidelizar consumidores ficou conhecido como “cash flow negativo”.
Com grana a rodo no caixa, muitas startups subsidiaram serviços baratos para quebrar concorrentes e conquistar mercados. Resumidamente, essa é a história de marcas já muito consolidadas nas cabeças dos consumidores, como iFood, Uber e Nubank.
O ponto de Taleb é que, com a pandemia e a Guerra da Ucrânia, as condições que permitiram o florescimento das empresas de tecnologia já não existem mais.
Agora, com os juros subindo por causa da inflação generalizada, investidores devem optar pela segurança dos títulos públicos, em vez de injetar capital em startups que já não parecem tão promissoras (ou “disruptivas”, para usar o jargão da área) como dez anos atrás.
Sem grana, e cada vez mais pressionadas a dar retornos, não restaria outra opção às techs a não ser cortar na carne. Nesse sentido, a demissão dos 11 mil funcionários do Facebook seria um aperitivo do que Taleb chamou de “desemprego persistente”.
A lógica de Taleb faz mesmo sentido. Só que, ao menos por ora, o raciocínio ainda não se materializou nas estatísticas de desocupação nos EUA, berço das principais techs.
Uma recente reportagem da revista Insider fez uma comparação entre a taxa geral de desemprego no país, que em outubro girava na casa dos 3,9%, com os índices registrados entre mais de uma dezena de categorias de profissionais de tecnologia.
No caso dos programadores, a proporção era de 1,5%. Já para os desenvolvedores de software, a cifra caía para 0,6%. Em relação aos administradores de banco de dados, o número era ainda menor: 0,5%.
A matéria, inclusive, não se baseou apenas em dados oficiais do governo norteamericano. Diversos especialistas em recursos humanos garantiram que o mercado de trabalho em tecnologia segue firme e forte na maior economia do mundo.
Ao contrário de outras categorias, fortemente impactadas pela pandemia, os profissionais de tecnologia podem ter até recebido uma mãozinha do coronavírus na procura por trabalho. Isso porque as empresas passaram a investir mais em ferramentas digitais para alavancar o e-commerce e aprimorar o home office, por exemplo.
De fato, há uma correção de rumo em curso por parte das empresas “nativas” de tecnologia. O tempo das vacas gordas, em que se gastava dinheiro adoidado, ficou mesmo para trás.
Por outro lado, dizer que profissionais da área podem ter de lidar com o desemprego persistente parece exagerado. Talvez eles só precisem bater em outras portas para além das big techs.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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