'Diziam que eu era maluca', lembra primeira engenheira da Stock Car – Automotive Business

Rachel Loh, que também será chefe de equipe da Copa Truck, luta para ampliar presença feminina nas pistas
Poucos segundos de conversa já mostram como Rachel Loh é apaixonada pelo automobilismo. Primeira engenheira da história da Stock Car Pro Series, a principal categoria do automobilismo nacional, ela se tornou uma referência para as mulheres que desejam trabalhar nas pistas. 
Mesmo depois de tanto tempo no esporte a motor, ela continua superando desafios. Dois deles acontecerão no fim de março, quando Rachel estreará como chefe da equipe ASG Motorsport na Copa Truck e participará da comissão técnica da etapa brasileira da Fórmula E, que corre no país pela primeira vez em 2023.
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Apesar de tantas conquistas,  Rachel nunca teve vida fácil nas pistas.
“Ninguém me levava a sério dez anos atrás. As pessoas riam e achavam que eu era uma exceção. Eu precisava falar que não era especial, e que cheguei lá porque me deram uma oportunidade e provei que era capaz. Só que ninguém nunca mais teve coragem de dar a mesma oportunidade para outras meninas”, disse, em entrevista à Automotive Business.
A engenheira descobriu sua paixão pelas corridas justamente em um dos momentos mais delicados de sua vida.
“Estava no início da faculdade e me sentia super desanimada por ter dificuldade com Cálculo. Quando conheci a Baja e vi que podia projetar, construir e pilotar meu próprio carrinho, descobri minha paixão pelo automobilismo e vi que era com isso que queria trabalhar. Muita gente dizia que eu era maluca, mas comecei a trabalhar na área antes de concluir meu curso”, lembrou.
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Antes de ingressar na Stock Car, a única experiência de Rachel com as pistas aconteceu nos seis anos em que trabalhou como assistente da Toyota da Fórmula 1 durante o Grande Prêmio do Brasil. A oportunidade veio por meio de pessoas que lhe deram uma chance de trabalhar no esporte a motor.
Só que todos eram homens. É por isso que Rachel batalha para ajudar meninas que desejam seguir seus passos.
“Comecei em 2017 falando com universidades do Brasil inteiro. Por onde a Stock Car passava, eu entrava em contato com as faculdades à procura de quem gostaria de trabalhar com automobilismo. Muitos estudantes diziam ter interesse, mas não sabiam por onde começar. Então eu oferecia a oportunidade de ir em uma etapa da Stock Car para conhecer o trabalho e mostrar o caminho das pedras”, afirmou.
A partir de 2022, Rachel começou a concentrar seus esforços nas mulheres. E claro que a decisão gerou polêmica.
“Sei que os homens ficaram p… da vida (risos). Deu uma briga danada, mas as equipes entenderam a importância desse trabalho e muitos times que não tinham mulheres se mostraram dispostos a recebê-las. Hoje em dia eu prego uma porcentagem de, no mínimo, 30% de mulheres nas equipes, e nem estou sendo tão ambiciosa. Tudo que eu faço é para batalhar por isso”.
O esforço da engenheira também foi recompensado na Fórmula E. Na etapa deste ano, que acontecerá entre os dias 25 e 26 de março, as mulheres serão 30% da comissão técnica da prova brasileira. Isso significa que, dos 19 profissionais responsáveis pela corrida, seis deles serão do sexo feminino.  “Estou muito feliz de não ser mais a única mulher”.
Rachel Loh pretende ajudar na capacitação de engenheiras e mecânicas. Mas também quer incentivar meninas que desejam trabalhar em outras áreas.
“Sempre falo para as meninas não se limitarem à função delas. Elas precisam olhar pra frente e mirar onde querem chegar. É importante aprender todas as qualificações necessárias para atingir o objetivo e quero que todas cresçam”, defende.
Por isso, ela trabalha na formação desde o início. “Nós começamos pela base, com engenharia e mecânica, mas, se houver meninas que querem trabalhar em áreas como marketing, eu também chamo para participarem de uma etapa. Nada melhor do que um evento para o profissional conhecer tudo na prática. Nossa ideia é abrir as portas e aproximá-las do automobilismo”.
Além de dividir sua rotina entre as duas categorias (Rachel é funcionária da equipe A.Mattheis na Stock Car), a engenheira ainda encontra tempo para participar da comissão técnica da etapa brasileira da Fórmula 1. Foi assim que surgiu a oportunidade de viajar até Singapura, onde atuou como fiscal de pista ao lado de outras 23 mulheres de todas as partes do mundo.
“Foi uma das coisas mais emocionantes que vivi na minha vida. Hoje eu falo para todo mundo ser bandeirinha porque é uma emoção inexplicável para quem gosta de automobilismo. Dar uma bandeirada para um carro de Fórmula 1 que está passando a um palmo de você…Estava muito quente (em Singapura) e eu estava desidratada e cansada, mas quando chegava o carro eu esquecia de tudo e dava a bandeirada! Pena que nesse ano o GP de Singapura caiu junto com uma etapa da Stock Car. Eu já estava juntando os centavos para ir porque eu queria ir de novo e fiquei arrasada (risos).”
A oportunidade de repetir o sucesso do projeto na Copa Truck foi fundamental para Rachel aceitar o convite da ASG Motorsport, que nesta temporada contará com Bia Figueiredo, uma das pilotos mais talentosas do automobilismo mundial.
Essa será uma chance de ouro para tentar acabar de vez com o preconceito contra as mulheres. Embora afirme que muita coisa mudou desde sua entrada no automobilismo, Rachel diz que ele ainda existe.
“As pessoas não gostam de falar sobre isso, e é muito triste. Eu preparo as meninas para se portarem nas entrevistas porque ninguém vai perguntar sobre sua capacidade, e sim se é solteira, se tem filhos e se deseja ter mais. Falo para elas não perderem a paciência e nem a cabeça porque a sociedade ainda é assim e precisamos driblar tudo isso”.
Com tanta dedicação, Rachel espera que a presença feminina no automobilismo seja cada vez maior. 
“Claro que para mim é uma honra ter sido a primeira engenheira da Stock Car, mas também é uma tragédia porque eu ainda sou a única. Nunca houve outra até hoje. Estou tentando trazer mais mulheres, mas é muito difícil porque o nível de competitividade é altíssimo. Então, preciso prepará-las muito bem para que elas estejam prontas para ficar com a vaga quando a oportunidade aparecer”.
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