Como suprir a falta de profissionais qualificados na tecnologia? – Época NEGÓCIOS

Por Marc Tawil*

— Foto: Unsplash
As pesquisas são unânimes: o avanço tecnológico é uma realidade e a escassez de profissionais qualificados também. Com a diferença que esse segundo fator limita o crescimento de muitos campos de alta tecnologia.
Segundo especialistas, há uma demanda entre 4 milhões e 7 milhões de ofertas de emprego no setor que não são supridas pelo mercado.
Como explicar tamanha defasagem, se está claro que de 20% a 30% do trabalho poderá ser executado com tecnologias de automação num curto espaço de tempo?
Aqui mesmo, em Época Negócios, eu escrevia em janeiro que “1,1 bilhão de empregos serão radicalmente transformados pela tecnologia na próxima década”, de acordo com previsões divulgadas no Fórum Econômico de Davos, na Suíça.
Fui entender, então, de Carlos Busch, executivo com mais de 25 anos de experiência na liderança de grandes multinacionais na América Latina, como ONU, Microsoft, Oracle, Software AG e Salesforce e referência internacional em Vendas e CX, para onde caminha essa humanidade.
“A escassez de talentos qualificados em áreas de alta tecnologia pode impactar o desenvolvimento das empresas de várias maneiras. Primeiramente, a falta de profissionais capacitados pode resultar em projetos atrasados ou de baixa qualidade, o que afeta a capacidade da empresa de entregar produtos e serviços inovadores. Além disso, a competição por talentos pode levar a aumentos nos custos de contratação e salários, impactando a rentabilidade das empresas. A falta de pessoal qualificado também pode limitar a capacidade das empresas de adotar novas tecnologias e acompanhar as tendências do mercado, colocando-as em desvantagem em relação aos concorrentes mais ágeis e atualizados”, me explica Busch, responsável hoje por mentorar outras lideranças.
Na visão dele, saída há, mas ela irá demandar esforço por parte dos contratantes: “Empresários podem pensar estrategicamente na qualificação de seus profissionais, adotando algumas medidas importantes. Em primeiro lugar, podem investir em programas de treinamento e desenvolvimento interno, aprimorando as habilidades de seus colaboradores atuais e preparando-os para as demandas futuras. Podem, ainda, estabelecer parcerias com instituições educacionais e de treinamento para garantir que seus funcionários tenham acesso às habilidades necessárias. Outra estratégia é atrair talentos com potencial e investir em programas de estágio ou mentoria para desenvolvê-los”.
O incentivo à aprendizagem ao longo da vida, o Life Long Learning, é outro assunto crucial para que os profissionais estejam sempre atualizados com as mais recentes tecnologias e tendências. Quem sai na frente em projetos amplia sua vantagem temporal sobre os demais competidores de mercado.
Pergunto a Busch, autor do best seller “Muito Além das Expectativas”, se tecnologias podem criar igualmente oportunidades de carreira (ao invés só de tornarem-nas obsoletas).
A resposta é positiva. “Por exemplo, a automação pode eliminar certos trabalhos manuais e repetitivos, porém, ao mesmo tempo, pode impulsionar a criação de empregos relacionados à manutenção e operação dessas tecnologias. Novas funções surgirão para desenvolver, implementar e melhorar essas tecnologias, como engenheiros de IA, cientistas de dados e especialistas em cibersegurança. O papel dos profissionais irá evoluir para trabalhar lado a lado com as máquinas, combinando habilidades humanas com o poder da tecnologia para alcançar melhores resultados”, me relata ele.

‘Romantização’

O Brasil é um dos países mais evoluídos em profissionais e capacitação, mas não no volume que nossa economia necessita neste momento. Nossos profissionais são comumente contratados por empresas do exterior pela vantagem competitiva pela diferença de câmbio, reforça Busch.
“Entendo que o ponto do Brasil em si é a falta de maturidade da nossa classe empresarial de entender que certos movimentos são relevantes para nossa sociedade e crescimento do mercado.”
Segundo ele, há uma romantização destes movimentos, em vez de focar no que poderia gerar de diferencial competitivo: “Tenho visto muitas empresas buscarem uso de IA para reduzir custos diretos ou atividades similares, mas não em usar de forma ampla esta tecnologia como vantagem competitiva, ou seja, criar novas formas de atender clientes, entregar serviços antes complexos etc”.
Outra decorrência do avanço destas tecnologias emergentes é a perspectiva para o trabalho remoto e o avanço da colaboração entre equipes distribuídas.
“Tecnologias de comunicação, colaboração e compartilhamento de informações permitem que as equipes trabalhem de forma eficiente, independentemente de sua localização geográfica. Empresas podem adotar estratégias de trabalho híbrido, combinando escritórios físicos com possibilidade de trabalho remoto. Essa abordagem aumenta a flexibilidade e a satisfação dos funcionários, bem como permite que as empresas acessem talentos globalmente, ampliando suas possibilidades de recrutamento.”
O grande dilema, porém, está na dificuldade de alinhamento da cultura da empresa frente aos modelos remotos, que dificultam a integralização dela.

Agronegócio

Desejo saber de Busch se o Brasil, apesar do gap tecnológico, tem potencial para implementar tecnologias emergentes em setores diversos. “Evidentemente! Um exemplo é o agronegócio, que já tem mostrado avanços significativos no uso de tecnologias como a IoT para monitoramento de lavouras, drones para inspeções, análise de dados para otimização da produção e até mesmo o uso de robôs para atividades agrícolas específicas. Áreas como saúde, educação, indústria automobilística, energia e serviços financeiros, ao mesmo tempo, têm espaço para adoção de tecnologias emergentes para aprimorar processos, eficiência e inovação”, afirma.
“Na última Consumer Electronics Show (CES), realizada em Las Vegas, Estados Unidos, o CEO global da John Deere, keynote speaker do evento, abordou justamente a grande transformação liderada pela empresa neste contexto.”
Carlos Busch conclui dizendo que ter profissionais qualificados no país representa economia de tempo e dinheiro para os empresários, pois, na prática, competimos com nossa mão de obra qualificada junto aos países com maturidade empresarial mais evoluída e mais vantagem competitiva em moeda.
Da mesma forma, as empresas brasileiras que estão focadas em usar este movimento de inovação como construção de mais valor e vantagem competitiva, além de enfrentar a falta de mão de obra qualificada, em muitos casos precisam investir mais ainda por talentos, competindo com mercados mais maduros.
*Marc Tawil é estrategista de Comunicação, palestrante e educador, Nº 1 LinkedIn Top Voices, LinkedIn Creator e Instrutor Oficial do LinkedIn Learning, com mais de 14 mil alunos treinados na plataforma. Integra o Reputation Council da Ipsos e dá palestras nas áreas de Futuro do Trabalho, Futuro da Comunicação, Web3, Autoridade Digital, Evolução das Marcas e Sociedade 5.0. Tawil é, ainda, quatro vezes TEDxSpeaker e mestre de cerimônia TEDx. Colunista de Época Negócios e da Eletromídia Out Of Home, atua como Master Expert (curador) na HSM University e LinkedIn Expert em O Novo Mercado. Em 2023, publica pela editora HarperCollins Brasil o livro “Seja Sua Própria Marca”.
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